segunda-feira, 30 de junho de 2008

Grande desafio vai começar



Viagem Tiago Moreira Alves, 27 anos, está há mês e meio ao volante de um Citroën 2CV. Percorreu cerca de 11 mil quilómetros, passou por 18 países, dormiu muitas noites no carro mas o grande desafio começa, na próxima semana, com o início da travessia da Rússia. Destino: Pequim

Um militar «gordo e bonacheirão» e uma guarda fronteiriça «carrancuda» no controlo de passaportes na fronteira entre a Finlândia e a Rússia faziam temer o pior. Mas, logo de seguida, o comportamento de «duas oficiais altas e lindíssimas», que examinavam mercadorias e falavam inglês, fez desvanecer os piores receios. Tiago Moreira Alves começara, nesse momento, a verdadeira aventura de ligar o Porto a Pequim.

Natural e residente do Porto, advogado estagiário a quem falta apenas o exame de agregação, Tiago, 27 anos, tem uma «panca para viagens». Pensou em Pequim no dia em que estava a acabar uma viagem a Istambul, ainda e sempre com o seu 2CV, no final de 2007. «Ao contrário das outras pessoas, o maior choque, para mim, é regressar, voltar à realidade. Mas não tinha noção da distância e da empreitada», confessa, a partir de São Petersburgo, por telefone.

Projecto social

Começou a preparar a viagem a 10 de Fevereiro. E partiu, a 7 de Maio, ainda sem o orçamento completo ? 40 mil euros. Quem quiser poderá contribuir, comprando postais dos locais por onde Tiago passou, por cinco euros, dos quais dois serão entregues ao movimento Paralímpico. Esta é, aliás, uma iniciativa sem fins lucrativos. «A dada altura percebi o potencial do projecto. E associá-lo à causa dos paralímpicos foi uma coisa natural, quase uma forma de justificar a viagem», diz.

Onze mil quilómetros e 18 países depois ? Portugal, Espanha, França, Inglaterra, Bélgica, Holanda, Alemanha, Dinamarca, Suécia, Rep. Checa, Eslováquia, Hungria, Polónia, Lituânia, Letónia, Estónia, Finlândia e Rússia ? há muitas histórias para contar, sobretudo em três dias em solo russo.

«Em Espanha, a polícia mandou-me parar três vezes. Perguntavam-me para aonde ia e quando dizia Pequim ficavam admirados. Interessavam-se pela minha história e uns polícias até escreveram no site [2cvportopequim.com]. Na Europa ocidental, é tudo facilitado e estive quase sempre com amigos. O mais engraçado aconteceu na Rússia, mas nem tudo se pode contar», afirma.

Fígado não, por favor!

Em São Petersburgo, revela que estava a sentir a necessidade de «me encontrar sozinho». O que é difícil, porque «as pessoas são simpatiquíssimas» e o convidam para dormir nas suas casas, além de ficarem loucas com o 2CV, que surpreende Tiago «todos os dias», tal a «interactividade que provoca com os locais». A maior dificuldade tem sido a língua. Na primeira refeição, ainda teve a ajuda de um marroquino que falava espanhol, mas, no segundo dia, escolheu à sorte e saiu-lhe fígado. «É a única coisa de que não gosto». Inesquecível o episódio com a polícia, que o queria multar por excesso de velocidade. «Tentaram que lhes pagasse 100 euros. Mas lá me perdoaram.» Agora segue-se a jornada até Vladivostok. «Começa o grande desafio», desabafa.

Nuno Paralvas @ Sexta

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